Um Brinde a Amizade

O brinde é uma comunhão. Quando os copos se juntam, juntam-se nossas belezas e nossas forças.

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Já estávamos ha certo tempo reunidos, amigos comendo e bebendo juntos, já alegres, descontraídos, a uma altura em que a intimidade está instalada e tudo pode ser dito.

Quando um amigo muito querido sugeriu:

__ Por que você não escreve um texto falando sobre o prazer de beber com os amigos?

E a pergunta foi feita em um momento em que achei a ideia fabulosa (aquele prazer era muito real).

Mas... é uma missão difícil a um psicanalista... É preciso cuidado para que não de a impressão de que estou incitando ao uso exagerado da bebida... Mas quando pensei em meus leitores, me lembrei de que são pessoas de grande sensibilidade, com sabedoria suficiente para entender... Portanto me senti liberada à minha taça de vinho...

O beber a que gostaria de me referir aqui é um ritual... uma comemoração saudável e alegre... Uma comunhão!

“Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto” (Rubem Alves)

Um costume que pode ter sido inspirado na igreja, na eucaristia (quando comungamos)... no ato de querer colocar Jesus Cristo dentro... incorporá-lo... beber o sangue de Cristo... Bebe-se uma taça de vinho em homenagem a Jesus.

Inspirados, tentamos fazer o mesmo com os amigos e com os momentos prazerosos que vivemos com eles... queremos comer e beber, num ritual antropofágico todo o alimento que estes instantes e estas pessoas especiais nos proporcionam.

Um desejo imenso de colocar para dentro aquele momento... se alimentar de cada segundo... incorporar... beber...

Estes rituais não devem ser feitos com pessoas que não amamos... não queremos coloca-las para dentro. E muito menos queremos intimidade. Não queremos repartir com elas o mais profundo de nossa alma.

As pessoas de “cerimonia”, aquelas com as quais podemos ser só um pedacinho do que somos, estas nós recebemos na sala de visitas... Entram, mas ficam próximas a saída... não tem permissão para penetrar nossos segredos. Com estes não bebemos... a conversa se limita as regras da educação... e os silêncios são perigosos e insuportáveis.

Os amigos íntimos e queridos adentram nossa cozinha. Lugar de intimidade... lugar aquecido pelo fogão, pelo calor da intimidade... Aos amigos é permitido sentir os aromas e gostos de nossos temperos... estes podem nos assistir durante processos, não apenas na perfeição do pronto... a estes é permitido que descubram nossos segredos. O silêncio aqui não assusta, é um estar juntos... Os amigos, após entrarem, os colocamos o mais distante possível da porta de entrada (geralmente as cozinhas ficam nos fundos) porque não queremos que saiam.

Para desconhecidos mostramos só a fachada, para os íntimos nossas profundezas... se descobrirem falhas o máximo será rirem muito, e riremos juntos... Quer coisa mais gostosa do que virar criança e rir de si mesmo?

Por isso com os amigos podemos beber... se soltar e mostrar um pouco mais de nossas intimidades... Beber com um querido é a mesma coisa que convidá-los a nossa cozinha.

Beber com amigos é uma celebração para preencher os vazios da alma...

Brindar com um amigo é despertar todos os sentidos!!!

O brinde surgiu a partir da Grécia Antiga, onde o beber era um ritual sagrado. Eles colocavam o vinho na taça e a seguravam (tato)... ficavam a namorando... observando com atenção a cor e suas características (visão). Em seguida apreciavam intensamente o aroma (olfato)... e finalmente bebiam e apreciavam o vinho (paladar). Que prazer!!! Quatro dos sentidos despertados... Mas, ainda faltava um... E então, jogavam as taças e quebravam para ouvir o barulho do cristal se quebrando (audição). Perfeito!!! Todos os sentidos aguçados!!! Sensibilidade à flor da pele!!!! Com o tempo deixou-se de quebrar as taças... a alegria foi substituída pela deliciosa brincadeira de bater a própria taça nas taças dos que comemoram juntos... Tim Tim!!!!!

Vamos brincar, rir e comemorar!!!

Um brinde a amizade!!!!!!!

COMPANHIA NO DIVÃ - Bia Melara