Relações Em Tempos de Urgência
As famílias e os vínculos afetivos atravessam, hoje, uma era de fragilidade estrutural.
O que antes se sustentava pelo dever, pela tradição ou pela repressão, hoje vacila sob o peso da liberdade mal compreendida. A promessa da autonomia virou, para muitos, solidão.
A psicanálise há muito nos alerta: todo vínculo real passa pela renúncia e pela frustração. Amar implica aceitar a alteridade, suportar a diferença, reconhecer que o outro não veio para satisfazer nossos vazios. No entanto, em tempos de gratificação imediata, a mínima frustração já é sentida como falha do outro – e não como parte inevitável da experiência amorosa. O narcisismo contemporâneo exige do relacionamento aquilo que ele não pode oferecer: completude.
Essa intolerância a frustração é marca de uma cultura que se recusa a elaborar a perda, a espera, o conflito. Romper virou solução rápida. Substituir, uma forma de evitar o confronto com a própria história psíquica. Mas relações sólidas não se constroem sem atravessar o desconforto. Sem atravessamento, não há elaboração – só repetição.
Bauman já apontava: amores líquidos não querem laços, querem conexões. Conexões são fáceis, não exigem comprometimento. Mas vínculos exigem trabalho psíquico. É nesse trabalho que reside o crescimento do sujeito e de seus relacionamentos. Relações tóxicas, tão comuns hoje, não são apenas fruto do outro abusivo, mas da repetição inconsciente de dinâmicas internas não simbolizadas.
Ainda assim, há esperança. Quando o sujeito se implica, quando se analisa, quando se dispõe a conhecer suas próprias faltas e limites, ao invés de aponta-las no outro, ele se torna capaz de amar de forma mais adulta – e menos defensiva. Relações saudáveis não são feitas de perfeição, mas de presença, escuta e disponibilidade para sustentar o outro em sua diferença.
Em tempos líquidos, sustentar vínculos pode ser um ato revolucionário!
COMPANHIA NO DIVÃ - Bia Melara
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