O perigo da onipotência

Pensando um pouco sobre a busca por soluções mágicas e rápidas, em desrespeito ao comunicado dos sintomas.

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A cada dia fica mais comum ouvir as pessoas falando do uso das famosas pílulas milagrosas, pílulas da felicidade, pílulas do sono.

Elas são comentadas e indicadas com a maior naturalidade do mundo em rodas de amigos: “Eu tomo esta”, “Eu também”, “Ah não, eu tomo aquela.”

Se eu fosse adepta, nesta hora sairia correndo e tomaria logo duas na tentativa de aliviar a minha dor e preocupação.

Quando perguntado se foi algum psiquiatra quem indicou ouço que não, mas que era um médico muito bom.

Esses médicos bons que me desculpem, mas quanto mais competente mais conhecedor de seus limites será um profissional.

Pergunte a este médico se ele aceitaria que um oftalmologista medicasse a sua esposa que estivesse com problemas ginecológicos.

O bom médico não é onipotente e faz encaminhamentos e indicações, ele está preocupado em resolver os problemas de seu paciente e não em mascarar ou ensiná-los a viver no mundo de fantasias.

Os nossos sintomas são alarmes emocionais, alertas de que algo em nossa alma precisa ser cuidado.

Não basta fingir que as dores, tristezas e falta de sono não existem. Elas existem e há algum motivo para isso. É necessário entender o que está acontecendo. É preciso aprender a pensar e buscar dentro de si a resolução de seus problemas.

Ninguém fica triste ou perde o sono à toa. Mas a mágica não está no comprimido ou em qualquer outra muleta que venha de fora. A mágica é que temos dentro de nós mesmos todo o potencial para viver bem, entendendo nossos conflitos.

Sempre digo que se continuar neste ritmo daqui a pouco estaremos comemorando a perda dos dedos, a morte da mãe, ou dormindo para enfrentar a perda do emprego quando o melhor seria estar bem acordado procurando outro emprego ou alguma forma de superar as dificuldades decorrentes.

A busca por soluções rápidas e mágicas e a onipotência são fatores que só prejudicam.

As mágicas são ilusórias.

“O apressado como cru... ou quente”.

Onipotente só Deus.

Preste atenção se o seu médico não prefere, por uma questão egóica... ou quem sabe financeira, pensar que pode resolver tudo sozinho.

E preste atenção principalmente se não é você que está sendo onipotente, preferindo acreditar que não precisa de ajuda especializada ou não querendo enxergar que você é um ser humano, como qualquer outro, com sentimentos, sujeito a dores, medos, fraquezas... e que pode por algum motivo estar sofrendo, estar preocupado...

Estou me lembrando da época de faculdade quando perguntei por que teríamos aulas de anatomia se estávamos ali para estudar a alma, a mente e ouvi do professor a resposta que nunca mais me esqueci: “_ Porque jamais chegara a você para ser tratada apenas a alma, junto dela sempre vai um corpo”.

Eu espero que os médicos jamais se esqueçam de que seus pacientes, além do corpo e da questão física, também tem uma alma carregada de sentimentos e emoções, e que esta também precisa de cuidados.

Cada um fazendo a sua parte, chegaremos a resultados excelentes.