O jovem... a família... a sociedade... a doença...

Sobre os números epidêmicos e alarmantes de comportamentos auto agressivos e suicidas em nossos adolescentes. Como agir?

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O jovem... a família... a sociedade... a doença...

A vocação da psicologia é estar onde a dignidade do homem está ameaçada. As transformações sociais nos interessam e são de nossa responsabilidade, uma vez que nenhum sintoma individual se forma sem essa implicação social.

Por este motivo resolvi escrever sobre o alto índice de suicídios e de uso de drogas entre os adolescentes. O analista não pode deixar de refletir ou ficar indiferente com essa degradação do ser humano e dos laços sociais. Pensando, a princípio, de maneira mais ampla, percebemos que a agressividade e autodestruição entre os jovens vêm aparecendo como uma espécie de epidemia, alastrando-se indiscriminadamente, independentemente da classe social.

Essa realidade pode revelar múltiplas determinações: os meios de comunicação que banalizam esta violência; a distribuição desigual de rendas e de direitos de cidadania; a ausência ou precariedade das políticas assistenciais para a criança e o adolescente em risco pessoal; a comunidade que não se responsabiliza pelas suas crianças e jovens; a escola expulsiva; a família, que inscrita na mesma base material e cultural da sociedade, não é um lugar de cuidados e fracassa no controle da conduta dos filhos.

Falar sobre tudo ou tentar aqui mudar toda a realidade já instalada será impossível, por isso vou preferir me estender no entendimento dos jovens e estas famílias em questão,  por acreditar que estes sofram de maneira muito mais intensa e presente com esta “doença”.

Quando considero o conceito de Fromm (1968): “A pessoa mentalmente sã é aquela que é produtiva e não alienada, que se relaciona com o mundo com amor e que usa a razão para compreender objetivamente a realidade; que experiência o seu próprio ser como uma identidade individual única e ao mesmo tempo sente-se unida ao seu próximo; que não é sujeita à autoridade irracional e que aceita de bom grado a autoridade racional da consciência e da razão; que está no processo de nascer por tanto tempo quanto viva e considere a dádiva da vida a mais preciosa chance que possui”, sinto-me motivada a pensar na importância dos trabalhos preventivos com adolescentes.

Tenho presente à visão da adolescência como um período de crise e de intensas vivências de fenômenos inconscientes, tais como sentimentos de perda, sentimentos de culpa, de eclosão da agressividade, de ambivalência intensa, de fantasias persecutórias e principalmente perda da identidade.

Na maioria dos casos, o uso da droga se inicia nesta fase tão complicada para o adolescente (e para os que convivem com este) de busca de sua identidade.

Na etapa inicial da instalação da dependência a droga propicia ao indivíduo uma noção (falsa) de quem ele é. Do seu uso extrai a sensação muito forte de prazer, de que pode ser alguém, de que pode ser aceito por seu grupo. Isto é gravado em sua memória de maneira fulminante. A partir daí acha que só com a droga pode ser alguém. Mas, passada a “lua de mel”, a coisa muda de figura. A procura da droga não se liga mais ao prazer e a sensação de poder: agora se torna a única forma possível de se proteger de uma situação insustentável. O sentimento de desagregação interna é tão forte que a droga tem que ser encontrada e consumida de qualquer forma. É então que, muitas vezes, o dependente químico chega a comportamentos delinquenciais e suicidas.

É necessário que, principalmente os pais, fiquem atentos, e se o adolescente já estiver fazendo uso da droga, ou apresentando outros sintomas de auto agressividade, procurem ajuda psicoterápica imediata.

Se o vício já estiver instalado, o tratamento torna-se extremamente complexo, exigindo intervenção a nível médio (orgânico) e psicológico (individual e familiar). Nesse caso o terapeuta e a família devem estar preparados para lidar com vários aspectos envolvidos na personalidade do dependente químico: depressão, tendência suicida, euforia, conduta delinquencial, manipulação, dependência, etc.

Apesar das dificuldades dessa fase, a adolescência é também um período reestruturante, de grande abertura ao mundo e flexibilidade psíquica, onde está exacerbada a natural tendência grupal humana e, portanto, especialmente propícia às ações preventivas.

É importante que seja criado no jovem estrutura interna para decidir, e isto pode ser feito principalmente com ajuda da família. Quanto mais o filho estiver afetivamente bem alimentado e humanamente valorizado em casa, tanto menos ele vai fugir para buscar compensações fora. Quanto mais carente se revelar, mais tenderá a buscar afirmação perante os outros. Quanto mais vulnerável à rejeição, tanto mais se submeterá à pressão da turma.

Quando se cultiva um diálogo franco, aberto, de respeito e consideração, torna-se possível ocupar um lugar mais importante do que a droga em seus corações.     

Vamos agir. Ainda há tempo.

COMPANHIA NO DIVÃ - Bia Melara

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