Falta de limites

Na era do “ princípio do prazer” os limites tornaram-se inimigos. Mas onde a falta de limites pode nos levar?

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Falta de limites

Há algum tempo a professora Silvia, a quem agradeço por acompanhar assiduamente a minha coluna, dando suas opiniões, me fez a sugestão para que escrevesse sobre a falta de limites. Achei o assunto interessante, e a princípio fácil. Mas quando me pus a escrever, percebi que é um tema muito amplo, quase “sem limites”.

O mundo passou a minha frente. Pensei em crianças... adolescentes... que tem como modelos e são educados por homens e mulheres, que espera-se sejam adultos. Mas que também já foram crianças, e se não são ainda, já foram adolescentes...e foram “educados”...

Cheguei à conclusão, que muito rapidamente, ocorreram mudanças através das gerações, de forma geral. Ou seja, é um fenômeno globalizado que observamos a todo instante.

Comecemos pelos papéis: as mulheres saíram à luta, e cada vez mais conquistaram espaços, antes exclusivamente masculinos. Isso é bom! Mas se escapa dos limites torna-se uma competição. A mulher pode ser competente sem perder sua feminilidade. Com uma mulher tão diferente os homens também ficam confusos quanto a elas e seus limites.

Há pouco tempo atrás, lembro-me que os bebês ao nascerem ficavam bem embrulhados, com braços e pernas presos. Bem protegidos. Hoje já nascem muito mais livres!

Muito mais cedo as crianças mexem em computadores, muito melhor do que eu faria!!!... Tem muito mais estímulos e informações. Isso é positivo! Mas sem limites pode oferecer informações deturpadas ou antecipadas.

E os jogos preferidos, você já observou? Não tem limites!!!!!

Vão bem novos para as escolinhas e muito mais cedo desenvolvem sua independência e capacidade de relacionamentos. Isso é bom! Mas sem limites, pode aparecer a carência, e para que esta seja defendida, a criança cria a fantasia de onipotência, acreditando não precisar de ninguém. Ao invés de independente, pode ficar individualista e até egoísta.

Os pais, por sua vez, para aliviar as culpas de suas ausências, quando estão juntos não conseguem dizer não. E saibam que o “não” é muito mais importante que o “sim” para a educação. Saber dizer “não” é amor, já que é ele quem cria os limites que a criança tanto precisa e pede.

Sem os limites, crescem e viram adolescentes achando que tudo é permitido. Menos as frustrações com as quais não aprenderam a lidar.

Os pais continuam cúmplices. Os filhos apresentam problemas na escola: “_ Vamos mudar de escola, estes professores não prestam, a direção é péssima!!!”. Diante de outras falhas: se recusam a acreditar que a culpa é dos filhos, encobrindo seus erros.  

E os relacionamentos? Todo mundo fica com todo mundo. Quem ficar com mais na mesma noite é o melhor!!!

Os adolescentes precisam experimentar, viver relacionamentos e sensações. Isso é bom! Mas a falta de limites torna os relacionamentos banalizados.

Eles se apaixonam e casam-se. Mas tudo deve ser perfeito, não podem existir problemas e o outro não deve falhar nunca, pois frente ao primeiro conflito separam-se.

Parece que o que prevalece para o ser humano, atualmente, é a busca exclusiva do prazer... a vida do não frustrar-se jamais.

E desta forma, sem perceber, ele torna-se o câncer do planeta, e vai corroendo e petrificando tudo. Vai ocupando todos os espaços, para os lados, ou para cima, construindo prédios cada vez mais altos.

Não querem poeira, e muito menos estragar os carros, então asfaltam tudo, sem importar-se com as futuras enchentes que fazem tantas vítimas e desabrigados.

Não querem mais sujeira, então cortam as árvores que sujam o mundo com suas folhas e flores... e ainda atrapalham a fiação elétrica. Não importa o efeito estufa, nem o ar cada vez mais poluído que respiramos.

As pessoas querem conforto, calor, comodidade...

É mais fácil as pessoas se revoltarem com um governante que fale de economia dos recursos naturais (lembram-se da época da ameaça de apagão?!),  do que com os corruptos.

A última eleição me entristeceu muito. Os eleitos são aqueles que conseguem a identificação da maioria das pessoas. E o retrato do povo brasileiro está aí para todos verem: a grande parte dos eleitos são políticos que ultrapassam todos os limites da ética, e não tem um passado nada exemplar.

Toshikatsu Matsuoka, ministro da agricultura do Japão, suspeito de corrupção, enforcou-se. Não estou defendendo a atitude dele, só quero mostrar que em alguns lugares a honra de um homem, ainda vale sua própria vida. Mas isso é bem longe daqui. Aqui roubam, até matam, todos dizem: “_ Oohhhhh !!!!!!”. Ouço muito o “rouba, mas faz”. E fica tudo por isso mesmo: “_ Não é comigo !!”.

Será que não é? E por falar nisso, a quantas anda a história do corajoso jornalista Luiz Carlos Barbon Filho? Ele não teve medo de mostrar a falta de limites, e acabou nos provando, com sua vida, que a situação é muito pior do que supúnhamos.

É neste mundo que nós e nossas crianças vivemos. Um mundo refletido em músicas, novelas, filmes, etc, que estão aí, a qualquer horário, para todos verem, como se fosse a coisa mais normal !!!!

Um mundo doente e imediatista, cujo modismo são as “pílulas mágicas de alegria”. Um mundo de jovens que estão perdendo até o sentido físico dos limites, e adoecem por já não conhecerem mais nem os limite do próprio corpo, falo de bulimias e anorexias... busca desesperada pelo corpo perfeito.

Um mundo no qual, todos vivem as conseqüências.

Não é só você que sofre com isso professora. Eu, você e qualquer profissional responsável e comprometido com a ética, é atacado cruelmente, hoje em dia, quando estabelece suas regras de sanidade, quando se nega a enlouquecer junto.

Felizmente, ainda existe uma minoria preocupada (e eu sou pelas minorias), que consegue pensar.

Existe uma minoria que faz psicoterapia para conhecer seus próprios limites, os limites do bom senso, da ética, da sanidade...

Desculpem-me se o texto de hoje ficou pesado...mas a falta de limites é tão pesada e agressiva quanto.

COMPANHIA NO DIVÃ - Bia Melara

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