Eu, um albergue
A psicanálise é o lugar onde você poderá ser apresentado aos seus vários eus

Segundo matéria publicada no jornal “A Folha de São Paulo”, o primatólogo holandês Frans de Waal, em seu livro “Eu, Primata”, defende que a natureza humana é a mistura de dois macacos, o chimpanzé “guerreiro” e o bonobo “hippie”. Ele afirma que temos uma natureza bipolar, uma porção boazinha e outra sociopata.
Ele nos faz lembrar o antigo mito do lobisomem, que possuía duas almas em um único corpo. Uma do Dr. Jeckill, um médico bondoso e sensível, e a outra do Mr. Hilde, lobo cruel e feroz.
Eu penso que ele esteja no caminho certo com seus estudos. Mas se continuar se aprofundando, talvez chegue à conclusão que não possuímos apenas e simplesmente dois lados, mas sim infinitos...
Freud já havia percebido pelo menos três partes, que denominou Ego, Id e Superego. Sendo um completamente diferente do outro. O primeiro seria um sábio, tranqüilo, maduro e muito racional. O segundo um inconseqüente, arruaceiro e “louco”. E o terceiro um juiz que pondera, julga, condena e pune, durante todo o tempo as atitudes dos outros dois.
Rubem Alves foi ainda mais além, e acredito que a conclusão dele é a mais próxima da realidade. Segundo ele nosso corpo é um albergue.
“É um albergue que não é de ninguém. Aquela pessoa que se apresenta como dona é apenas um síndico que, a qualquer momento, pode ser despedido. Quando o síndico é despedido o albergue vira uma zorra. Além disso, eu digo que aquilo que se parece com máscaras não são máscaras. São rostos de verdade, todos muito parecidos. Parecidos, mas muito diferentes. Não tem os mesmos pensamentos. Não tem os mesmos sentimentos. Não se entendem. E, no entanto, são obrigados a viver numa mesma casa. Os períodos de ordem e tranqüilidade não passam de uma trégua. A guerra pode estourar a qualquer momento. Alguns albergados chegam a se odiar...”
“Eis alguns deles: o depressivo, de poucas palavras; o alegrinho falador, insuportável; o sargento que gosta de dar ordens; a bruxa horrenda de voz gritada; o torturador sádico; o filósofo sábio; o místico; o romântico apaixonado; o invejoso, verde; o ciumento; o mal-humorado, que acha tudo ruim; o carrasco; o rancoroso, que se compraz em esgravatar o passado; o canalha; o moralista; a perua; o velho; a criança... A lista não tem fim. Com a ajuda do seu analista você poderá fazer um inventário dos tipos que moram no seu albergue, a fim de compreender as confusões que acontecem no seu corpo.”
COMPANHIA NO DIVÃ - Bia Melara
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