Depressão amiga
Há muito tempo atrás entraram em contato comigo pedindo que respondesse estas 3 perguntas. O objetivo era uma pequena opinião psicológica em um livro a respeito do tema depressão. Se o livro foi publicado eu nunca o recebi... Mas vou repartir com vocês a minha opinião.

O QUE É FELICIDADE?
Felicidade é estar vivo, com todos os riscos que pagamos para isso.
Felicidade é beber da vida... com muita sede.
Felicidade é sentir cada momento... valorizar cada instante... aproveitar cada segundo...
Os momentos são feito estrelas cadentes: cintilam nos caminhos da vida e se dissipam, no instante seguinte, na primeira curva da existência, e se não formos sensíveis e observadores o bastante, deixamos passar desapercebidamente estes breves intervalos entre o cintilar e o dissipar.
Felicidade é saber tirar o melhor de cada situação... Felizes são os que aprendem com as dificuldades e infelizes são os que se revoltam contra elas e se julgam vítimas do destino.
Felicidade é dar um mergulho dentro de si e descobrir o próprio jeito de sentir e fazer as coisas.
“As paisagens que vemos, assim é a nossa alma. Porque nós vemos aquilo que somos.” (Rubem Alves)
Felicidade é se entregar... com sabedoria. A sabedoria mais real e mais pura de todas, aquela que advém de olharmos para dentro, de enxergarmos nossas sensações.
A sabedoria que nossa alma grita com todos os sentidos... A “sabedoria original”: sabedoria não porque foi aprendida... não porque foi ensinada...mas sim porque foi vivida...porque foi sentida... porque foi introjetada... porque é natural.
E o natural é estarmos hora alegres, hora não alegres, porque as sensações, como tudo neste mundo, não são para sempre. Porque nascemos com um “pacotão” que contém todos os sentimentos, e todos eles têm sua utilidade.
Felicidade para mim é estar bem consigo mesmo e, em contrapartida, com o outro.
Estar bem consigo mesmo significa se gostar, se entender, entender seus próprios sinais, ouvir os alarmes internos quando estes soam, é aceitar limitações, admitir fracassos, lidar com incompetências, suportar frustrações e até mesmo poder viver sofrimentos...
Isso mesmo: felicidade é também se permitir ficar triste de vez em quando!!!
Como disse Fernando Pessoa: “Deus, ao mar, o perigo e o abismo deu. Mas é nele que se reflete o céu.”
Tudo é uma mistura de coisas boas e ruins. Hora estamos sorrindo... hora estamos de cara feia. Segundos os clássicos infantis somente os enfeitiçados estão sempre uma coisa só... Com eles as coisas boas ficam escondidas e só as ruins tem permissão para aparecer.
Eu acho que o deprimido é uma espécie de enfeitiçado!!! Um feitiço que rouba as cores da vida e não permite que a felicidade se achegue.
O QUE SENTE O DEPRIMIDO?
Segundo Bernardo Soares “não vemos o que vemos, vemos o que somos”. Se estivermos cintilantes, brilhantes, sentimos o mundo todo desta forma. Mas, se a luz da alegria se apaga, o mundo todo fica escuro, frio, pesado...
Tudo se transforma num mar sofrimento... sombrio.
O mundo é tristeza, dor, indiferença... cinzento.
O desejo é de sono, silêncio... solidão.
Um aperto no peito... é a depressão...
A falência emocional!!!
COMO LIDAR COM A DEPRESSÃO?
Não há motivos para desespero. Se você souber ouvi-la, se puder usa-la como um alarme emocional, se puder atender este pedido de socorro de seu aparelho emocional, aí então, poderá encarar a depressão como a heroína de uma história... como a salvadora de uma vida que já não possuía mais vida.
Ouça os sinais...
Entenda que é hora de parar!!!
Reavaliar, se reencontrar, perceber em que momentos, em que situações você foi permitindo que conceitos, pré-conceitos e padrões te matassem por dentro.
Onde foi que você esqueceu-se de quem é realmente?
Onde você abandonou seus desejos e passou a permitir que o desejo dos outros fizessem de você alguém estranho?
Se formos como o poeta e soubermos ouvir estrelas... se soubermos usar a nossa sensibilidade, poderemos ouvir nossas dores, poderemos aprender com nossos sentimentos...
Poderemos fazer da depressão, ou qualquer outra dor, independentemente do nome que possamos dar a ela, um grão de areia...
A dor estará para nosso coração, como o grão de areia para a ostra: um invasor incomodo, mas com o qual poderemos fazer pérolas e nos tornarmos seres muito mais valiosos.
Gosto especialmente do filme “O Sexto Sentido”. Penso que sua essência, sua mensagem principal nos ensina a não fugirmos de nossos fantasmas, não termos tanto pavor com relação a eles. Mas sim, ao contrario, enfrenta-los, aprender com eles... a lição que tiro é a de que só assim poderemos ter uma vida feliz, menos sofrida.
Vejo, ao contrario, as pessoas tentando fugir desesperadamente da dor. Perdem tempo procurando soluções, procurando alegria, fora de si... “É inútil, as fontes de alegria se encontram no mundo de dentro”.
O desejo desenfreado por mágicas (medicamentos) que calem a dor do sofrimento... a resistência em encarar e enfrentar sua própria história de vida.
Como dizia meu eterno mestre Di Loreto da maneira como as coisas caminham corre-se o risco de comemorarem a morte da mãe, a perda dos dedos...
Os medicamentos, em alguns casos, são muito bem vindos em parceria com uma boa psicoterapia ou análise. Mas, o uso isolado e desenfreado destes medicamentos milagrosos para “curar” a depressão, ao invés de atuarem como um suporte no tratamento funcionam como uma muleta... é como jogar a sujeira debaixo do tapete: ninguém vê, mas nós sabemos que está lá... escondida, mas lá.
Não é necessário escondermos nossa sujeira se entendemos que podemos limpá-la...
Não é necessário ter medo de nossas bagunças se descobrirmos nosso poder de organizar...
Com uma boa análise você poderá encontrar suas sujeiras, bagunças e respostas. Poderá por ordem em sua casa emocional.
Não é necessário correr desesperadamente de nossas depressões se as considerarmos como um natural período de transição, como tempos de mudanças e crescimentos... “épocas que antecedem novos horizontes de amadurecimento do ser em constante processo de evolução”.
Há um texto de Rubem Alves chamado “A Pipoca”, para finalizar, dele extraí este parágrafo:
“Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre. Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e de uma dureza assombrosas. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão – sofrimentos cuja causa ignoramos. Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação...
...pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: pum! – e ela aparece como uma outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.”
COMPANHIA NO DIVÃ/Bia Melara
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