A difícil tarefa das escolhas

Escolher: tarefa difícil por ser tão contraditória. Traz o gostinho de felicidade do novo, mas também o luto pela perda do velho

Compartilhe!

OU ISTO OU AQUILO (Cecília Meireles)

Ou se tem chuva ou não se tem sol,
ou se tem sol ou não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
Quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!

Ou guardo dinheiro e não compro doce,
ou compro doce e não guardo dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

...................................................

Desde muito cedo temos que lidar com a difícil tarefa das escolhas.

E muitas vezes a parte mais difícil nem é saber o que gosta mais... qual o preferido...

O mais difícil é ter que abrir mão!!!

Como dói ter que deixar algo para trás...

E é exatamente isso que acontece: cada vez que fazemos uma escolha aqui, estamos deixando algo para lá...

Cada vez que optamos por ficar com algo, estamos abandonando alguma outra coisa...

Quando consigo dar um passo para algo melhor, estou deixando o que já tinha...

Quando finalmente chego a um objetivo almejado, outras coisas cairão no esquecimento...

Quando troco de situação, pego aqui e largo ali... pego um e largo o outro...

O problema são essas palavrinhas que doem: deixar, abandonar, largar, esquecer... matar... dizer adeus!!!

O que torna tudo tão complicado é o luto...

O que dificulta é a duplicidade dos sentimentos...

Queremos muito alguma coisa... lutamos como loucos... finalmente conseguimos.

Por um lado há a felicidade imensa da conquista... o prazer do novo... a alegria do objetivo alcançado.

Por outro lado a tristeza da perda... o medo do novo... a dor de deixar o velho caminho conhecido, cômodo...

Cada vez que fazemos uma nova escolha, estamos matando um caminho que foi feito por nós em outra situação... estamos abandonando uma escolha feita por nós em outra época...

Nós mudamos... os caminhos mudam... os meios de transportes também mudam!!!!

Desde bem pequeninos quando nosso triciclo já não nos serve mais e queremos uma bicicletinha e depois uma bicicleta cada vez maior, já começam os primeiros sofrimentos: a criança fica muito feliz com o objeto novo, mas tem que aprender a lidar com o sofrimento de se desfazer do antigo.

O treinamento começa desde muito cedo... e não termina nunca!!!

Além das perdas materiais existem ainda, as maiores, as emocionais.

Queremos muito ser adolescentes para conquistar fantasiosas regalias... mas como dói deixar de ser criança e ter que assumir novos papéis com maiores exigências.

Então se sonha com a vida adulta onde conquistaremos a fantasiosa liberdade, que vem acompanhada do sofrimento com as responsabilidades.

A dificuldade das escolhas vem, a meu ver, a partir de todas estas expectativas criadas e conseqüentes frustrações.

É... não há como evitar as escolhas!!!

Mas que tal estar consciente de que todos os caminhos têm partes boas e ruins, e tentar extrair ao máximo tudo que nossas escolhas podem nos dar de melhor?

E, independentemente do que esteja vivendo hoje, nunca se esqueça de que esta foi a sua escolha...

Em algum momento lá atrás você já ponderou, já sofreu... e chegou a conclusão que dentre as opções, este seria o melhor caminho.

Não se engane, frente às dificuldades, se lamentando pela fantasia de ter feito a escolha errada...

Não existe caminho errado!!!

Existe sim, a necessidade de uma mudança, de uma nova escolha... um novo caminho...

... um andar para frente que te traga mais felicidade...

Se arrisque...

Faça escolhas!!!

BIA MELARA/Companhia no Divã